domingo, 5 de dezembro de 2010

[Não] Pertencer



Circulo. Vou a vários lugares. Os locais onde trabalho, restaurantes, casas de amigos e parentes, minha própria casa. Mas, de alguma forma, a sensação é a de não pertencer.
Talvez pela diferença entre cada um dos ambientes – física e espiritual. Talvez por não saber o que realmente poderia me prender a eles.
Sempre foi assim: morei em tantas casas, estudei em muitas escolas, trabalhei e trabalho em vários lugares. Houve um ou dois anos mais fixos, mas o que representam diante de décadas itinerantes? Não tenho raízes espaciais...
No entanto, ao contrário do que se possa imaginar, isso não me entristece ou angustia – apenas me envolver em perguntas sobre qual é meu verdadeiro lugar. E como vento, continuo por ai.
Enquanto divago, no ônibus, percebo o dia escurecer ao som de Portishead – give me a reason... – e lembro de um conto de Guimarães Rosa: Meu tio, o Iauaretê. Iauaretê significa jaguatirica num idioma indígena. É a história de um homem que vive no limite entre ser humano e ser onça. E questiona-se e desculpa-se por ser ambos e nenhum.
Volto a mim – ainda estou no ônibus. Agora, vejo-me ao computador. No escuro, somente a luz do monitor a iluminar o ambiente, o Word aberto. Quantas horas eu já passei na frente do computador? Mas com certeza não é a ele que pertenço, ou me prendo.
Vou atrás de alguns versos do Drummond... ou seria do Mário de Andrade. Bem, nunca fui boa com nomes – apenas com conceitos, afinal é isso que faço.
O Portishead acabou. Morphine entre – you’re the night, layla... Agora já está escuro mesmo. O ônibus faz o ultimo retorno antes do ponto onde vou descer. Entro no carro, on the road again. Vou atrás de algum conforto.
Ah, o meu lugar?
Aqui ;-)

Texto publicado por mim em outro blog, em 22 de agosto de 2007.