Flores, bombons, joias. Aquele sapato descolado, ou aquele
livro que há muito você queria. O presente entregue num momento especial. Um café
da manhã a dois, um almoço, um jantar num lugar bonito.
Cada detalhe planejado com carinho e esmero. Para agradar a
princesa da sua vida.
Enquanto isso, a princesa também faz seus planos. Imagina o
que o outro quer, procura, acha algo que pode agradar. Não sabe como fazer a
entrega, mas acredita que algo especial vai rolar e ela vai aproveitar a deixa.
Chega a dar umas pistas... está ansiosa para entregar coisas
misteriosas. Ele faz perguntas, mas ela insiste: “Surpresa”!
Os dias passam. E faltando um dia, daquele que seria O DIA, os
dois estão juntos. Enquanto comem aquela pizza gostosa, relaxados em casa,
alguma coisa passa na televisão, lembrando troca de presentes. E o príncipe
solta a bomba: “nós não combinamos nada de trocar presentes”.
As palavras descem como chumbo. “Ele deve estar blefando”,
pensa a princesa. “Alguma coisa sairá daquela enorme mochila que veio com ele”.
Ela ri e encerra sua refeição.
O DIA chega. E eles estão juntos. Enquanto ele checa suas
notícias, ela coloca o presente entre as coisas dele. Eles tomam café, aquela
pizza que sobrou de ontem, e seguem namorando, conversando, falando da vida.
Ele pergunta: “E aquela surpresa? É algo romântico?”. A
princesa respira, não sabe mais se aquilo tudo é romântico, se apenas faz
parte. Pede a ele que procure, diz que está na casa. Ele encontra, abre, gosta
e usa. “É, deu certo! Acho que agradou de fato”, pensa ela. E fica sentada,
esperando.
Nada. Os rumos políticos da cidade tomam lugar na conversa.
Mais tarde ele foi trabalhar, e a chama para conversar via
internet. Manda um vídeo. Enquanto a princesa espera o vídeo carregar, checa
suas redes sociais. Mensagens de amor, de união, enviadas ao mundo. E fotos,
muitas fotos. Fotos das flores ganhas logo cedo. Fotos do café da manhã
preparado pelo namorado. Fotos do bilhete romântico encontrado na bolsa. O
vídeo carregou: Ensina a moça usar frases de futebol para agradar o namorado.
Esse foi o presente da princesa. Quem sabe, se ela estudar
bem o vídeo, na próxima vez, o presente seja outro.
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A coisa toda é conversada, da maneira possível no momento.
“Você merece alguém melhor”, diz ele.
“Volta logo”, responde ela.
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Alguma coisa disso realmente importa?
Foi tudo uma coincidência infeliz de fatos?
Foi mercado e a tradição agindo sobre uma pessoa que tenta
se libertar?
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Escrito em 12 de junho de 2013.
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Escrito em 12 de junho de 2013.