Talvez seja o calor – realmente é difícil suportar um clima tão
quente, abafado. Talvez sejam hormônios – mulheres e hormônios vivem em
constante disputa de poder. Talvez seja o fato de eu viver e ser natural da
cidade que possui o “Minhocão”. Difícil saber de onde vem isso exatamente.
E isso é também uma coisa difícil de explicar. O que é isso?
Um sentimento? Uma intuição? Uma insegurança? Uma idéia? Não sei de onde vêm, e
nem sei definir. Mas sei nomear: “Minhocas”.
Assim mesmo no plural, ainda que seja algo singular. La está
você, toda feliz. Do nada surge um fato, uma frase, uma expressão. E
repentinamente você já não sabe mais quem é, onde está, e o que fará no momento
seguinte. Você nem consegue articular uma frase de maneira digna. Tudo soa
falso, frio.
A solução, ainda que temporária, tem sido sempre a mesma:
dormir, espairecer, falar com uma pessoa de confiança, e no final muito provavelmente
deixar para lá. Uma vez no passado eu fiz diferente. Falei que não estava
entendendo, pedi explicação, fui embora. O resultado foi trágico. Nem me
acalmei, nem recebi respostas.
Mas hoje é diferente. Hoje eu tenho um blog. Hoje vou
escrever. Já nem importa a origem ou o destino. Quero entender as Minhocas, mas
isso me parece impossível.
Primeiro, porque, arrogante e auto-suficiente que sou, penso
que esse tipo de coisa não me perturba mais uma vez que a maturidade e o
esclarecimento já me distanciaram de qualquer coisa nesse sentido. Ah,
super-mulher, você é foda.
Depois, porque tirando as minhocas, realmente está tudo
muito bem, até ótimo pode-se dizer.
Bem, como ser racional e “iluminado” que sou, decido tomar
um banho. Tento relaxar. Sim, as minhocas estão lá, mas começam a se dissolver
na água morna do chuveiro. No lugar delas aparece um medinho. Um medo de
sofrer, um medo de que tudo seja uma grande mentira. Mas ao mesmo tempo, vêm as
palavras carinhosas de um grande amigo, que me libertam da minha mente
catastrófica. Não, não é nada. É talvez somente a reminiscência da escolha de Sofia.
É medo mesmo, mas medos podem ser vencidos.
Saio do banho, me preparo para dormir. Se ainda havia alguma
minhoca, ela foi subitamente substituída pela BARATA que apareceu na cozinha.
Corro atrás do spray de veneno, penso em chamar meu pai (que está dormindo há
quarenta quilômetros daqui, em outra cidade).
É, minhocas, vocês não têm chance comigo. A vida, com sua
realidade e suas baratas, me desperta desse torpor destrutivo.
Obrigada, barata.
*****
A escolha de Sofia. Livro de 1979, filme de 1982. Em um
determinado momento, em campo nazista, Sofia, que tinha um casal de filhos,
teve de escolher entre ficar com a menina ou o menino, ou ambos seriam
entregues aos nazistas. Ela escolheu o menino. E depois disso, vieram as
teorias de que o homem tem a certeza do amor da mãe, enquanto a mulher precisa
afirmar que é querida a cada dez segundos. E isso embola todos os seus
relacionamentos.
*****
Acho que o pavor de baratas está passando. Consegui até recolher
o cadáver e jogá-lo no lixo. Disgusting!
*****
Creio que realmente minhocas são as coisas mais besta e inúteis
desse mundo, e por ora elas não habitam minha cabeça.
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