Segunda-feira, dia 06
Fui dormir quase 1h da manhã. Acordei as 3h48 e voltei a
ler. A ideia de ir ao Taj Mahl volta à minha cabeça. Pelos menos a preocupação
com o ticket da imigração terminou – todos o entregam na saída do aeroporto, é
o procedimento normal. Voltando ao Taj Mahal, o problema é a distância e o
tempo. Estamos no sul, o templo é no norte, a Índia é grande e morosa. Planejo
que até a hora do almoço terei isso resolvido. Por que também há ainda uma
terceira questão: aqui mulheres são
muito assediadas; mulheres ocidentais mais assediadas; mulheres brasileiras
ainda mais assediadas – e branquelas como eu são verdadeira atrações públicas –
ou seja, somente irei se tiver companhia.
Nao dormi mais nada. No café da manhã encontramos mais
brasileiros. Aos poucos, o inglês falado pelos indianos começa a fazer sentido. Ainda de manhã resolvemos, em grupo conhecer
a cidade.
Turismo
Primeiramente, fomos a um palácio no alto da cidade. Subir
as montanhas em estradas estreitas e ver a cidade no horizonte, lá embaixo, foi
exatamente ver as imagens que fazia na minha cabeça ao ler livros passados na
Índia no final do século XIX e começo do século XX, de autores como Kipling.
Chegamos ao primeiro palácio, em meio a vendedores
insistentes, resolvemos entrar. Para isso é necessário tirar os sapatos e ir caminhando
por ruas imundas descalços, até adentrar o palácio. Uma vez dentro, fazemos o
bind entre os olhos com um pozinho vermelho – condição para receber as bençãos.
É tudo muito belo e grande – e sujo também, a quantidade de moscas é
inimaginável.
Momento celebridade
Na saída do templo, uma menininha indiana pede com gestos
para tirar uma foto comigo, o que faço – na sequencia vem suas irmãs,
familares, todo seu grupo. Apenas paramos porque a chuva aperta, e o meu grupo quer
voltar para o carro.
Depois disso, voltamos ao cotidiano indiano: terra, moscas,
sujeira, vacas, flatulência, cuspes e assédio. E muitas, muitas cores. Passamos
no museu de cera sobre sons mais bizarro que já vi. Alguns insrumentos, músicos
e diversas origens, telefones, gravadores, o Ghandi, e uma caveira com a frase
“Don’t use Drugs”. Sem mencionar a placa de proibido cuspir.
Vamos ainda a outro templo, o de Mysore, construido no
inicio do século XX, com um jardim deslumbrante. Eu nao entro, pois teria de titar
o sapato e devido a chuva, o templo está inundado – nao vou enfiar meu pé
naquela água duvidosa.
Aproxima-se a hora de apresentar nosso trabalho. Corremos de
volta ao hotel e percebo que tenho menos de meia hora para almoçar, colocar uma
roupa mais arrumadinha e chegar na universidade. Pelo menos lavei meus pés.
No evento
Fazemos a inscrição, colocamos nosso poster, e depois
sucesso. Pela primeira leitura, percebemos o quanto o Brasil tem a contribuir
com estudos e práticas. Parece que estamos bem a frente de muita gente. Falta
apenas publicar.
A abertura oficial também foi bacana. Mistura de religião e
ciência. Excelente apresentação da ISKO e de seu desenvolvimento. E excelente explanação
de um professor indiano, de outra área, sobre o desenvolvimento do conhecimento
e da informação.
Mais para o fim da abertura, um mal estar toma conta de mim,
e vou circular um pouco. Tudo que vejo é meu chuveiro e minha cama. Aguento firme,
pois ainda teremos a apresentação cultural e o jantar. Foram cinco danças, onde
mãos, pés e cabeças regem a expressão corporal.
Infelizmente, o jantar lembrou algo tipo bandejão da USP…
Composto pela tradicional fila indiana (aqui, original), e comida ruinzinha… Comi
apenas pão e sorvete. A verdade é que eu não aguentava mais, queria a todo
custo voltar para o hotel. Assim que vi o carro do evento, me enfiei dentro e
me fui. Quando dei por mim já estava na cama, limpa, leve e solta.
Novamente acordamos as 3h48 da madrugada. Senti meus olhos
grudados, fui ao banheiro e tirei algum resquicio de maquiagem. Voltei a
dormir. Quando acordei de fato, percebi
que estava com conjuntivite – nos dois olhos.
Tea break
Aqui não temos coffee-break, mas tea break, apesar de tanto
chá como café serem oferecidos. Bem, mas foi durante esse momento que minha orientadora
procurou o professor organizador pediu para arrumar um médico para mim. Ele,
muito sábio (graças a Deus!) disse que antes disso me daria um colírio.
Raghavan, seu lindo!
Tomo uns três Tais (chá com leite) bem gostosos e fico mais
um pouco. Voltamos ao hotel para almoçar, e voltamos para a Universidade de Tuc
Tuc – uma honda Bizz que leva umas quatro pessoas além do motorista, devagar e
super tremendo. Imperdível para quem vem aqui.
Momento celebridade 2
As 3h30 saímos mais cedo do evento. Na saída, olhamos o
jornal local pendurado no mural com a cobertura do evento. Quem está na foto
que ilustra a notícia? Sim esta que vos escreve. Rio muito, e vou com mais colegas
a uma loja local. La adquiri meus trajes típicos e agora ando como uma
verdadeira indiana – me sinto até mesmo mais morena.
Tomamos umas cervejas e finalmente decido minha viagem ao
Taj Mahal. Vou com minha orientadora, passagens compradas, hotel, taxis e passeios
agendados. Uhuu.
Desmaio, não acordo na madrugada, e vou para o evento no dia
seguinte, muito feliz.
Terceiro dia de Congresso
Começamos com uma excelente palestra, sobre Social Tagging. Apesar disso, o clima é
levemente tenso, pois de tarde haverá assembléia. Não dá para fugir da política.
Mas tudo bem, algumas boas palestras depois, voltamos ao hotel.
Chamamos um taxi e vamos a um mercado para ver especiarias e
incensos. IMPOSSÍVEL. O assedio é tamanho, sujeira, calor, vendedores que não te
deixam em paz, e se você para a fim de ver algum produto, surgem uns trezentos
indianos oferecendo tudo, menos o que você gostaria de comprar. “Apenas olhe”,
insiste um comigo. Nem respondo e pelo visto sou xingada... Apesar de termos
combinado com o motorista que ficaríamos meia hora no local, menos de quinze
minutos depois já voltamos ao carro, e de mãos vazias.
Quem foi que disse que aqui dava para comprar seda e
incenso? É mentira, você não consegue acessar o produto, quando faz geralmente
nem é tão barato assim.
Pelo menos o dia se encerra com champagne – é a
confraternização dos 18 brasileiros em Mysore.
Hora de arrumar as malas.
Mysore, Índia, 8 de agosto
de 2012, 23h00.
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