É meio assim.
Acordo, faço café. Nem sei quando exatamente, mas logo estou
na frente do computador. E-mails, notícias, facebook, e a tese.
Às vezes a tv está ligada, busco algum jornal. Outras,
somente umas músicas de fundo. Raramente o silêncio.
Estico o braço, vejo se há bateria no celular. A água está
sempre à mão. Um copo de coca zero, às vezes uma cerveja, outras jack daniels.
O gato no colo desmaiado. Eu me mexo (e eu me mexo muito,
tanto acordada como dormindo), e ele nem parecer perceber. Como se fosse água,
adapta-se constantemente ao meu corpo.
Há dias em que levanto e resolvo cozinhar. Nos demais, vai o
que tem.
Eu me levanto, o gato reclama. Fica na cadeira que eu ocupava,
se me demoro, vai atrás de mim. Mia, faz gracinhas. Volto a sentar e ele volta
ao meu colo.
Permeando o dia pensamentos naqueles que amo, nos lugares
que quero conhecer, e em tudo que estaria fazendo se não estivesse trabalhando
e estudando. É como seu eu fosse um fragmento perdido das demais partes. O
todo, sei lá, um dia se juntará. Ou não, de repente nem é fragmento mesmo.
Alguém manda um vídeo. Dou risada, choro, canto junto,
compartilho.
O gato se levanta. Penso em fazer um chá, em buscar um caso.
Mas resolvo escrever.
E já penso no livro que está na minha cabeceira. Será que
hoje eu o termino? Devo já pegar outro? Mas tem a tese...
Ando, tomo um banho. O gato a esperar.
E eu também... Tempo!
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É verdade que não tem preço trabalhar descabelada, com a
maquiagem borrada.
É verdade também que isso não é assim todos os dias. Por
isso eu disse: “Meio assim”. Depois começam de fato as aulas na faculdade,
congressos, viagens.
Se não, não tinha nem esse texto nem autora dele.
Mas realmente penso: como vivem as pessoas que entram as 8h
e saem as 5h, voltam para a casa, jantam e veem a novela? O que move essas
pessoas?
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Ainda bem que existe a arte. O telefone, o chat, a bike, os
ônibus e o carro. Porque eles nos levam àquilo que importa mais: as pessoas.