Sim, eu adoro internet e todas as possibilidades que ela
oferece de acesso à informação. Só o fato de eu poder falar com pessoas e
resolver pendências sem uma ligação telefônica já seriam motivos suficientes
para eu não querer viver desplugada.
Como pesquisadora e professora, ter acesso a conteúdos sem
ter de ir à biblioteca ou à banca de jornal também me faz mais feliz.
Mas aí tem as redes sociais. Bacana. Ótimo meio de manter
contatos profissionais, familiares, amigos... Um ótimo meio para troca de informações,
em todos os âmbitos. E nessa você cria um blog, contas no twitter, no linkedin,
no facebook, etc.
Eu costumava dizer, que além dos mexericos e espionagens,
característicos das redes sociais, a parte mais chata da internet era a falta de senso privado. Mas até então, eu tinha a seguinte definição para o meu senso
privado, uma coisa relativa a espaço/tempo: aquela história de você não ter
mais limites determinados para trabalho, estudo ou lazer, e acabar fazendo tudo
ao mesmo, ou dando mais tempo para uma dessas coisas, geralmente ao trabalho.
Isto é, antes para resolver uma pendência do seu trabalho, você
deveria estar no seu local de trabalho. Ao bater o cartão e deixar o recinto, a
pendência teria de esperar o seu retorno. Hoje, com email, você vê no domingo a
tarde toda a confusão antes da segunda-feira. Nem preciso dizer que isso
contribui, e muito, para o aumento da ansiedade das nações. Talvez somente os
médicos conhecessem essa realidade, ao terem seu bips sempre tocando durante
seus momentos privados.
Mas devido a fatos mais recentes, meu conceito de senso
privado foi ampliado. Agora, além da questão espaço/tempo, as redes sociais
também passaram a ter seu caráter público e privado. Entao, por exemplo,
twitter em geral é publico. Você pode me seguir, mesmo que eu não idéia de quem
você seja – existem mecanismos de bloqueio, mas não tão evidentes como no
facebook. Então, no meu twitter menos de mim e mais do mundo. O
linkedin, minha faceta profissional, que aparece para todos, e com mais
detalhes para aqueles da minha rede. E o facebook, ah, o facebook. Local, onde
o mundo, o profissional, e o pessoal, se cruzam meio que sem limites. E sim, as
pessoas querem saber quem você é quando tira o uniforme. E querem ser seus
contatos no facebook.
Mas uma vez que eu te aceito no facebook, eu digo: sim, você
pode ver um pouco mais do meu lado pessoal, mas tem o compromisso de manter
isso aqui dentro, aqui no facebook. E dessa forma, fotos, links e postagens em
geral podem ser curtidas, comentadas e compartilhadas. Mas dentro do facebook
apenas, e em geral entre seus contatos. Tanto é que quem não é meu contato, ao acessar
meu perfil, pouco verá. Duas fotos (a do perfil e a de capa), e duas ou três
postagens que fiz questão de deixar abertas ao público.
Ou seja, o conteúdo do meu facebook é privado, meus contatos
têm o direito de ver o que coloco, mas têm também o dever de manter essas
informações, sobretudo as pessoais, dentro do facebook mesmo.
E qual não foi minha surpresa, na ocasião de uma entrevista,
em que me foi comunicado que uma foto minha do facebook havia sido escolhida
para ilustrar a tal matéria. Isso mesmo, que uma foto privada, acessível por uma
das pessoas responsáveis que por acaso estava (não está mais) entre meus
contatos, iria para outro ambiente. Seria deslocada do seu âmbito privado, para
o âmbito público, sem o meu consentimento. Detalhe, a entrevista foi dada por
email, não pela rede social. Fiquei sem acessar o facebook alguns dias e se
passasse mais um dia sem acesso, a foto teria ido ao ar, e eu a um advogado.
Daí vem a discussão: está na internet é público?
Claro que não. Não vou entrar no mérito dos direitos
autorais e de propriedade aqui, muitas vezes não respeitados e confundidos com
direitos editoriais. Mas sim, a internet possui camadas virtuais de permissão,
e nem tudo é público. Que tal uma reflexão para podermos respeitarmo-nos uns ao
outros? Tanto que se meus conteúdos do
facebook fossem públicos, eu aceitaria qualquer pessoa como contato, e mais, deixaria públicas, e não apenas visíveis para meus contatos, todas as postagens
que faço por lá.
Bem é isso – devemos ter cuidado com que postamos, e como postamos. Mas devemos sobretudo ter respeito pelos conteúdos postados pelos
outros, e avaliar as conseqüências que o uso e o não uso da internet e das
redes sociais pode acarretar às nossas vidas.
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Aliás, por conta da divulgação da mesma entrevista, fiquei chocada
com o número de colegas de profissão (professores e bibliotecários) que não
acessam o twitter como fonte de informação.
Um pouco antes de publicar este texto recebo o link da
entrevista de Giseli Aguiar sobre bibliotecários e redes sociais. Muito a
calhar : http://www.usp.br/agen/?p=136090
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A propósito, nem fiquei sabendo qual foi a foto que tentaram
usar do meu facebook... Consegui a tempo parar o processo, mas a curiosidade
ficou.